O vazio de não ser turista em Paris...


Inaugurando as reflexões filosóficas do blog, resolvi falar hoje sobre uma coisa na qual eu não pensava antes de vir morar aqui, um sentimento que nem passava pela minha cabeça quando eu sonhava com a vida em Paris: o vazio de não ser turista e tampouco moradora da cidade. Mas como assim não ser turista e nem moradora?

Em 2011, eu vim como turista. Eu tinha um propósito, que era conhecer o maior número de pontos turísticos possíveis. Ir à Torre Eiffel, ao Arco do Triunfo, ao Louvre, ao Musée D'Orsay, à Catedral de Notre-Dame, passear de barco no rio Senna, ufa! Os dias mal davam para fazer tudo, e eu não tinha tempo nem para pensar ou para questionar qualquer coisa.

Eu na Disneyland Paris em 2011, realizando meu sonho. Mais turista impossível.
Agora, tudo é diferente. Eu não sou turista, e não estou sob a pressão de conhecer tudo e tirar mil fotos nos poucos dias que vou ficar na cidade. Agora eu vim morar aqui, vim estudar, trabalhar, montar uma vida em Paris. Aí nas primeiras semanas o que aconteceu foi que eu senti um vazio imenso! Eu não me sentia turista, eu não tinha vontade de ficar correndo de um lado para o outro nos pontos turísticos, não estava louca para ir à Torre ou passear pela Champs-Elysées. Por outro lado, também não me sentia moradora ainda, pois não tinha começado a faculdade, não tinha emprego, nenhum compromisso, não tinha... nada pra fazer.

A verdade é que quando você chega aqui sem ser turista, a cidade aparece de outra forma. Eu cheguei e só me preocupava com a parte prática do dia a dia, eu precisava descobrir os supermercados, me adaptar à Picard (os congelados que vem à seguir), descobrir a lavanderia, abrir a conta no banco, fazer a matrícula na faculdade, fazer o procedimento do OFII (escritório de imigração), que envolvia os Correios daqui, chamados La Poste, e por aí vai. Mas eu não ia fazer tudo isso ao mesmo tempo e no mesmo dia, então eu fazia uma ou duas dessas coisas por dia, que acabavam muito rápido, e eu simplesmente não sabia mais o que fazer comigo mesma no resto do dia. (sugestão: continuem lendo o post com a música do White Stripes como trilha sonora desta reflexão.)




Eu acordava de manhã e pensava: nossa, está um dia lindo, ensolarado e quentinho, e eu não quero ficar em casa, mas o que eu vou fazer na rua? Eu não tenho NADA pra fazer na rua! Eu saía do prédio e via aquele monte de pessoas andando apressadas, e me parecia que todas tinham um propósito na vida, algo que as motivava a levantar de manhã e sair. Algumas estavam indo trabalhar ou estudar, e outras eram turistas, mas parecia que eu, somente eu, não tinha nenhum propósito naquele dia. Eu sei que isso faz parte da experiência, que é um período de adaptação, e que logo ia mudar, mas foram semanas que tiveram um gosto agridoce (adoro a palavra bittersweet). Ir ao mercado comprar leite e Nesquik pro café da manhã não era bem um propósito de vida para mim. Eu sentava na frente do computador para procurar emprego e as horas iam passando e a angústia aumentando. Eu tentava procurar lugares para visitar e turistar um pouco, já que eu estava (estou, né) em Paris, essa cidade incrível e mágica, mas era difícil algo me parecer atraente o suficiente para me fazer sair de casa. Parece contraditório, e é.

Agora as coisas estão começando a se ajeitar. Aos poucos eu fui me acertando com o meio-termo. Eu sempre vou ser um pouco turista, porque não tem jeito de passar pela Notre-Dame, que está aqui pertinho de mim, e não tirar uma foto, e agora também sou, por um ano, moradora de Paris. As aulas na faculdade estão começando, estou caminhando na coisa do emprego e logo eu não vou ter tempo para mais nada porque vou estar escrevendo uma freaking dissertação de mestrado, já que terei apenas alguns meses para fazê-lo. Aos poucos eu não me sinto mais tão deslocada e sem propósito. Eu já criei uma rotina de supermercado, aprendi a usar a lavanderia, já tenho meus pratos preferidos na Picard, já tenho conta no banco, e acho que estou começando a parecer parisiense, porque as pessoas estão me parando nos lugares para me pedir informação! #adoro .

Mini Dean Winchester que agora está na minha mesa...

Porque arrumar a mesa em que você vai estudar e escrever durante quase um ano e comprar a miniatura de um dos seus personagens favoritos de uma de suas séries favoritas para colocar nela faz parte do processo para sentir que tenho uma casa nesse lugar, né?

See ya! :D



Um comentário:

  1. Miga não entedi vc escrever: "Eu acordava de manhã e pensava: nossa, está um dia lindo, ensolarado e quentinho, e eu não quero ficar em casa, mas o que eu vou fazer na rua? Eu não tenho NADA pra fazer na rua! "
    Nossa com tantas praças maravilhosas, com tantos museus e vc não saber o que ia fazer na rua? Só pode ter sido por desânimo miga, pois Paris é pura cultura. Qunado nào tiver o que fazer suba apé de Pialle a Montmartre e descubra museus maravilhosos,bjs

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