Lavando roupa em Paris


Aí chega aquela hora que ninguém pensa enquanto está se imaginando tomando champanhe na sacada do hotel com vista para a Torre Eiffel: a hora de lavar a roupa suja. Pois é, a gente vai usando e usando e uma pilha enorme vai se formando na cesta de roupas do banheiro até que você abre o armário e está praticamente vazio, sem roupa limpa para usar.

Aqui em Paris, a maioria dos studios, os pequenos (e mais baratos) apartamentos para uma ou duas pessoas não tem máquina de lavar nem varal, o que significa que temos que usar as chamadas laveries libre service. Tem várias espalhadas pela cidade, é só jogar no Google e encontrar a mais próxima de você. Só que uma outra coisa que ninguém imagina é a aventura que pode se tornar sua simples ida à lavanderia. Vou contar a minha.

Depois de achar a laverie libre service mais próxima da minha casa, eu coloquei aquele monte de roupa, lençóis e toalhas na bolsa do supermercado e fui. Já começa por aí. O peso absurdo de quilos de roupa que você tem que carregar. Chegando lá, tinha algumas pessoas, mas ainda havia algumas máquinas vazias. A minha sorte é que eu tinha lido uns posts na internet sobre o uso dessas lavanderias "self-service" e já tinha uma ideia de como é o processo, mas ainda assim não foi muito fácil. A ideia é a seguinte:


- Você encontra uma máquina vazia e coloca todas as suas roupas lá dentro. Em seguida, acerte a temperatura da lavagem. Quanto maior a temperatura, mais tempo de lavagem. Eu coloco sempre entre 30 e 40 graus (porque demora menos tempo... hehehe), mas não faço a mínima se é a temperatura correta. Eles tem um cartaz explicando qual a temperatura para cada tipo de roupa, os nomes dos ciclos de lavagem e tecidos e coisa e tal e eu não entendo nada. Atenção com as cores, nada de misturar preto, branco, vermelho, a não ser que você tenha certeza de que aquelas roupas em especial não soltam tinta durante a lavagem. Para mim é um drama porque eu tenho uma peça de cada cor e tudo solta tinta. Aí o jeito foi fazer uma separação dos pretos/jeans escuros; brancos/cores claras/não solta tinta, para fazer duas lavagens. O resto vai na mão mesmo. Comprei um sabão, montei um esquema e peças que são uma de cada cor e a roupa íntima eu lavo na mão em casa e penduro pra secar por todo o apartamento. Fica uma beleza. Só que não.

A novela do microondas quebrado


Ufa! Depois de uma semana muito louca no emprego novo e na faculdade nova estou de volta para contar mais um causo da minha vida em Paris.

Aconteceu que uma semana depois da minha chegada ao novo apartamento, o microondas simplesmente parou de funcionar. Pois é. Um belo dia, eu coloquei minha jantinha da Picard para esquentar, morrendo de fome, e quando tirei a caixinha do microondas, estava tudo congelado do jeito que eu havia colocado lá dentro. Um pânico que acho que nunca tinha sentido igual se instaurou dentro de mim. O QUE EU IA FAZER DA MINHA VIDA SEM UM MICROONDAS?? Este pequeno eletrodoméstico é o centro da minha vida doméstica. Eu não tinha/tenho nada em casa para cozinhar, nada mesmo, eram quase onze da noite, eu estava cheia de fome e não tinha o que comer. Então em meio aquele sofrimento eu fiz um sanduíche de pão de forma e blanc de poulet (aquelas fatias de algo que não se o nome e que vem em bandejas no Brasil, só que de frango), um Nesquick e fui dormir, com o estômago insatisfeito. No dia seguinte, começou a saga do microondas.

Liguei para a representante da dona do meu apartamento (a dona mesmo mora em Londres e me disse que se eu precisasse de algo que era melhor ligar para a representante primeiro porque ela estaria por perto) e disse que o bendito havia quebrado. Aí o que ela fez? Me mandou ligar para a dona do apartamento! Disse que não poderia resolver nada sem falar com a dona primeiro. Tá, né, então qual o sentido de ligar para ela? Enfim. Aí lá fui eu comprar créditos de Skype e ligar para o celular da dona do apê em Londres. Eu só consegui falar com ela naquele dia à tarde e já estava há mais de 24h sem uma refeição de verdade (o almoço tinha sido um panini da minha lanchonete amiga aqui perto) e super estressada porque ninguém me atendia e ninguém me ajudava. Então ela me disse: "eu vou comprar um microondas e mandar pra você" e uma sirene soou na minha cabeça, me fazendo responder: "mas eu preciso dele tipo hoje, eu preciso comer!" (disse exatamente isso só que de forma educada) e ela disse que eu podia comprar um microondas e depois descontar do aluguel. OK. Na hora, fiz uma pesquisa no site da loja de eletrodomésticos chamada Darty e vi uns microondas a 59 euros. Corri nas duas lojas da Darty aqui perto, uma na rue de Rivoli e outra no shopping Le Forum des Halles, passei os preços dos disponíveis para a dona do apê por telefone, ela disse "compra!" e eu decidi comprar na loja do shopping.

Darty Les Halles

Os insetos (!!!) no apartamento


Logo no meu primeiro despertar no apartamento, tive uma desagradável surpresa. Insetos. Insetos estranhos, nojentos, moles, brilhantes, que corriam loucamente pelo chão, e tinha vários deles na banheira, e alguns pipocando pelos cantos. Entrei em desespero. Como assim insetos em Paris? Eu não conseguia acreditar. Quer dizer, é óbvio que eu sabia que existem insetos em Paris, mas sabe aquela coisa que não passa pela sua cabeça?

No dia seguinte, a representante da dona do apartamento bateu à minha porta de manhã, do nada, para me avisar que eu tinha esquecido a chave do lado de fora da porta (!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!), algo que nunca tinha feito na minha vida, mas tudo bem. Ela ainda me consolou, dizendo que não tinha problema, que o prédio tinha segurança, código para entrar etc., mas pelamor né. Aí eu aproveitei e falei dos insetos, e ela me sugeriu que eu tirasse uma foto do bicho e fosse até uma loja que tem aqui pertinho chamada BHV, uma loja de departamentos que tem absolutamente tudo, uns seis ou sete andares que vão de canos, máquinas de lavar e chuveiros a roupas, sapatos, sabão, vassouras e... inseticidas. Ela fica ao lado do Hôtel de Ville, e se chamava inclusive Bazar de L'Hôtel de Ville. Nesta loja, ela disse que eu poderia perguntar a algum vendedor e eles me indicariam um produto para matar este inseto em particular.

Então eu assim o fiz. Tirei uma foto do bicho, fui até a sessão de droguerie da BHV (não, não é a mesma coisa que a nossa "drogaria", é uma sessão de inseticidas, sabão e detergente), onde eu mostrei a foto para um vendedor e ele me disse que aquilo era um poisson d'argent. Não, eu não vou colocar foto dele aqui porque é nojento, mas no Brasil é conhecido como traça ou peixinho-de-prata. Só de ouvir o nome dele me dá coisas. Aí ele me indicou um produto chamado Bio Kill que custa 16,50 euros, e me mandou espirrá-lo nos cantos do apartamento. Cheguei em casa e não sei como não morri eu própria com o troço, porque devo ter colocado um litro de produto pela casa.

A arma.
O resultado é que logo em seguida, os bichos começaram a aparecer mortos e com o tempo diminuíram. Hoje ainda aparece um ou outro, mas é raro.

A lição do dia é: em Paris também tem insetos.

A Refeição de Cada Dia: A Picard e o Monoprix


Todo mundo sabe que Paris é famosa pelos seus restaurantes e cafés, pelas suas boulangeries e pâtisseries. Na verdade, pela sua gastronomia em geral. Mas e o Lado B? As outras formas de obter as refeições de cada dia na Cidade Luz? É aí que entram o supermercado e a loja de congelados.

Cena do filme Ratatouille, da Disney, um dos meus favoritos. "Qualquer um pode cozinhar."
A Picard Surgelés é uma loja que só vende comida congelada, e tem um monte de filiais pela França toda. Eles são perfeitos. Você pode encontrar refeições prontas para uma ou mais pessoas que vão ao microondas ou ao forno elétrico, e acreditem, são uma delícia! Tem para todos os gostos, pratos variados com carnes, vegetais, peixes, massas, e uma sessão de comida de outros países. Tem sobremesas, incluindo sorvetes (Haagen-Dazs e tudo), bebidas e também ingredientes avulsos congelados, como carnes e peixes para serem cozidos em casa, vegetais cortados (batatas para fritar!), sopas, purês, comida para bebês, pizzas, e por aí vai. Tem de tudo, e tudo muito bom e barato.

Os pratos prontos para uma pessoa chamados "formule express" custam 2 euros e eu adoro. Tem um gnocchi com espinafre e queijo de cabra que é sensacional, assim como a lasanha de espinafre e queijo de cabra que me dá água na boca só de lembrar. Tem um mini-farfalle ao molho de três queijos que também é dos deuses. Os pratos mais complexos ou com ingredientes mais caros, como camarão, custam um pouco mais, mas você encontra refeições completas de todos os tipos custando de 2 a 4 euros, e boas de verdade. Com 20 euros, é possível comprar almoço e jantar para uns 4 dias ou mais, dependendo dos pratos que você pegar.