Sobre os apartamentos em Paris e os banlieues


Quando estamos nos preparando para ir morar na França, no meu caso, em Paris, tem muita coisa que não sabemos, isso é normal. Se conhecemos alguém que já mora ou morou lá e que pode nos dar orientações, pode-se dizer que encontramos um tesouro, pois ir com certas informações na bagagem é inestimável.

Uma destas informações preciosas que eu gostaria de ter tido quando me preparava para ir é sobre os apartamentos em Paris. Você, querido leitor que acompanha o blog, já deve ter lido este post aqui, no qual eu conto minha experiência no aluguel de apartamentos na Cidade Luz. O que eu aprendi depois daquele post é o que vou contar agora para vocês.

Uma das leitoras do blog, a Lizi, comentou sua preocupação com os preços dos alugueis parisienses, que estão pesando em suas contas. Pensando no problema da Lizi, que também deve ser o de muitas outras pessoas, vim falar novamente sobre este assunto. Sabemos que os apartamentos em Paris normalmente tem alugueis absurdamente caros, são antigos e minúsculos, muitos deles sem o menor conforto. Alugueis de um studio de 15m² para apenas uma pessoa custam em torno de 700 euros. Lógico que encontramos alguns que custam menos do que isso, em arrondissements mais populares e e/ou residenciais, sem nenhum ponto turístico por perto. O 17 e o 19 são exemplos, arrondissements mais populares onde mora um grande número de imigrantes, assim como o 12 e o 13, que são mais residenciais. Nos bairros mais centrais ou mais ricos os alugueis são ainda mais caros.

Morar nesta rua é "um pouco" caro. Foto: Vanessa Santos.
O que não te contam neste processo de procurar um lugar para morar em Paris e que você descobre quando chega lá é que existem os banlieues, os "subúrbios", locais mais afastados do centro, fora da cidade de Paris propriamente dita, geralmente na zona 2 ou até 3 dos transportes públicos. Muitos destes bairros são onde ficam as estações terminais das linhas de metrô, ou são servidos pelos RER, os "meio trens/meio metrô" de Paris. Nestes banlieues ficam também algumas universidades, como o campus Saint-Denis da Paris 13, em Saint-Denis, no final da linha 13, e a Université Paris-Est Créteil (ex-Paris 12), em Créteil, no final da linha 8 do metrô. Neles, é possível encontrar apartamentos maiores e muito mais baratos, em torno de 300, 400 euros, valor do aluguel normal em várias outras grandes cidades da França. Tenho uma amiga que mora perto da estação La Corneuve, no final da linha 7, que paga 600 euros por mês em uma casa de 2 andares, grande e confortável.

As burocracias da Securité sociale, a.k.a., o plano de saúde


Além de todas as burocracias da candidatura, do visto e do procedimento OFII, quando você chega à França, ainda tem mais uma coisa para resolver: a securité sociale. Esta bendita nada mais é do que o plano de saúde francês. Algumas pessoas me perguntaram se deviam contratar um seguro viagem daqueles que fazemos quando viajamos antes de ir estudar numa universidade francesa e eu normalmente digo que não, não é preciso. Se você tem menos de 26 anos e vai se matricular numa faculdade na França, você terá direito à securité sociale. No ato da matrícula, você também está aderindo ao plano de saúde, que é pago. Você paga a taxa de matrícula mais o valor da securité sociale, que para mim foi em torno de 480 euros no total.

Como funciona este plano de saúde? Quando você faz a sua matrícula, o funcionário encarregado vai te dar duas opções, uma mutuelle (a sociedade sem fins lucrativos que proporciona os benefícios da securité sociale) com uma cobertura regional e uma com cobertura nacional. E eles não te dão nenhuma dica sobre qual escolher, mesmo que você pergunte. Eu escolhi a de cobertura nacional e não gostei, meus amigos que escolheram a regional tiveram que lidar com bem menos burocracias. Neste sistema, se você precisar ir ao médico, comprar remédios ou sofrer um acidente/passar mal e precisar ser internado, a securité sociale que você contratou vai ressarcir parte do valor que você pagou pelo atendimento médico, palavra chave sendo "ressarcir". Na França não existe atendimento médico gratuito (a não ser em alguns casos, como vou explicar abaixo, mas ainda assim não é exatamente gratuito). O sistema de saúde deles é eficiente, rápido e moderno, mas não é grátis.


Assim que aderi à mutuelle escolhida, LMDE, me enviaram para falar com a moça responsável. Ela me explicou que eu teria que fazer alguns procedimentos para ter direito aos benefícios da securité sociale. Eu deveria ter um médecin traitant, isto é, meu médico pessoal. Eu teria que ir numa consulta e levar um formulário para que ele ou ela assinasse e carimbasse, e sempre que eu precisasse de um médico, eu teria que ligar para ele/ela primeiro. Tendo este formulário em mãos, eu deveria enviá-lo pelo correio com um RIB, que eu descobri ser um documento emitido pelo banco com todas as informações nacionais e internacionais da minha conta. Conta esta que eu não tinha, mas tive que abrir (história que vai ficar para um próximo post). O RIB era necessário para que eles pudessem depositar os valores ressarcidos de remédios e consultas.

A nova plataforma Campus France


Olá, pessoas! Recentemente, eu vi na página do Campus France que as candidaturas às formações em universidades francesas (Licence, Master etc.) serão feitas em uma nova plataforma a partir deste ano (para o ano letivo 2016/2017), chamada Études en France. Não entrei na plataforma, mas pelo que vi, ela me parece estar mais simples e mais intuitiva. 

Você pode encontrar as novas orientações aqui, nesta página do próprio Campus France. Desta vez, eles fizeram uma página mais simples e não um Guia de Orientação como nos outros anos. O procedimento continua o mesmo, isto é, preencher o formulário, registrar as candidaturas para as universidades escolhidas, pagar a taxa, fazer o teste de francês e a entrevista, mas a plataforma Campus France, onde tudo isso é feito, foi modernizada. O que pude pegar da nova página de orientações é que o formulário também continua muito parecido com o antigo, então as orientações que dei aqui no blog ainda são válidas. Para não haver confusão, estou atualizando todos os posts sobre o procedimento Campus France com uma observação, pois nem tudo pode estar mais exatamente como descrevi. 

Então é isso, galera, bonne chance a quem vai se candidatar! :)


Sobre bolsas e auxílios

Quem é vivo sempre aparece! Depois de longos e tenebrosos meses de ausência, cá estou novamente para mais uma aventura do estudante estrangeiro na França: a de conseguir bolsas e auxílios.

Algumas pessoas já me perguntaram sobre este tema, então resolvi fazer um post para dividir com vocês meu pouco conhecimento sobre este tema. Digo pouco pois infelizmente não tive nenhuma bolsa para os meus estudos em Paris. Sei que elas existem e que é possível consegui-las, mas na época em que pesquisei, nenhuma era viável para mim, pelos mais variados motivos, como período de inscrição já encerrado ou incompatível com os meus prazos, ou o fato da bolsa não contemplar o (meu) Master, ou o Brasil, ou a Psicologia (Ciências Humanas em geral). 

As bolsas. Se você quiser saber mais sobre bolsas, o Campus France tem uma página que fala sobre elas e uma plataforma para buscá-las chamada CampusBourses. É uma ferramente bem útil, e você pode encontrar a página aqui . É preciso ter em mente, porém, que as candidaturas para bolsas são feitas bem cedo, e se encerram meses antes do ano letivo começar, em setembro, então sugiro que a pesquisa e os procedimentos relacionados a bolsas sejam feitos com bastante antecedência. Isto pode ser um problema, já que as universidades geralmente dão as respostas positivas ou negativas aos candidatos à suas formações relativamente tarde, em junho, julho e até agosto. O ideal é pesquisar tudo sobre prazos e regulamentos para saber se você vai poder se inscrever em alguma seleção para bolsa e já se preparar. 

Uma outra dica é um novo programa que oferece 200 bolsas para estudantes estrangeiros do Master chamado USPC MIEM. As candidaturas para 2015-2016 já estão encerradas (foram dois períodos, um encerrado em março e o outro em maio), mas deixo o link para os futuros interessados se informarem melhor sobre as universidades e os Masters contemplados, assim como procedimentos de candidatura. O site é este aqui . Lembrando que mesmo que você não tenha conseguido bolsa para o primeiro ano (M1), há a possibilidade de conseguir uma para o segundo, já que as candidaturas às bolsas são feitas diretamente com os responsáveis pelos Masters elegíveis a elas.


A CAF. Passando para o próximo item do post, temos um auxílio muito importante:

O procedimento OFII, um pequeno grande detalhe


Fala, galera! Apareci! Prontos para mais uma aventura? Então vamos lá!

Quando você chega em Paris, além das 1500 coisas que você tem que organizar para iniciar sua vida por aqui, ainda tem o tal do procedimento OFII (aquele que te explicam no dia em que te entregam o visto) para realizar. Então hoje vou falar um pouco sobre ele, que é de extrema importância e sobre o qual quase ninguém te fala.

O que é o procedimento OFII? No dia em que você pega o passaporte com o visto, o funcionário do consulado entrega também um formulário que você deve preencher e as instruções sobre o que fazer em seguida. O endereço para onde você deve enviá-lo preenchido junto com a cópia do seu passaporte (pelo correio, o famoso La Poste) assim que chegar à França é o do Office Français de L'Immigration et de L'Intégration, o OFII, que é basicamente um escritório de imigração francês, onde todos os imigrantes submetidos a um visto de longa duração devem se apresentar para um exame médico (?!) assim que chegam ao país. Na folha de orientação que o consulado dá, consta que após enviar os documentos, você receberá no endereço indicado uma carta com um rendez-vous, ou seja, uma data e hora marcadas no OFII para mostrar (mais) alguns documentos e realizar os exames.

Place de la Bastille vista da janela do ônibus. O OFII fica ali pertinho. Foto: Vanessa Santos

Atenção: este procedimento é obrigatório e deve ser realizado imediatamente após a chegada à França. Você tem um prazo de três meses para realizá-lo, e nestes três meses tem liberdade para viajar para fora do país e retornar tranquilamente, mas se após estes três meses você não tiver completado o procedimento, estará na França ilegalmente. Como vão saber que tudo foi feito corretamente? O OFII cola um selo no seu passaporte com seus dados e indicando que você tem autorização para residir na França. 

A sumida


Pessoas queridas,

Estou passando para dizer que não abandonei o blog. Estou é numa correria trabalhando, assistindo aulas e me angustiando com a proximidade da entrega da dissertação do Master, que é daqui a dois meses. Qualquer hora apareço com mais aventuras na Cidade Luz!



Bisou!

Sobre a experiência de estudar na Paris-Diderot (Paris 7)


Faz quatro meses, quase cinco, que cheguei à França e me matriculei na Université Paris-Diderot, a Paris 7. De lá para cá já foram muitíssimas emoções "living the dream" de estudar em Paris. Mas afinal, como é estudar numa universidade francesa? O que tem de bom e o que tem de ruim?

A matrícula. Para começar, já no dia da matrícula, dia 2 de setembro, eu levei um balde de água fria na cabeça ao chegar à faculdade. Toda aquela organização obsessiva, aquela atenção que o Campus France te dá, tudo aquilo cai por terra na França. Cheguei à Paris 7 no horário marcado e simplesmente não me pediram nenhum documento, nada de nada (tirando meu passaporte). Nada de diploma, histórico etc, como diziam no agendamento da matrícula. Fizeram perguntas sobre a minha formação e anotaram o que eu dizia. E se eu tivesse mentido?

Depois disso, ninguém sabe te informar mais nada sobre a sua formação. Eu fiquei andando feito barata tonta, tive que voltar lá mais duas vezes para conseguir alguma informação (incompleta) sobre o que fazer depois da matrícula. Numa dessas vezes eu voltei para casa sem sequer conseguir chegar ao setor de estudos psicanalíticos, porque o prédio Olympe de Gouges é um belo de um labirinto e nem as pessoas que trabalham lá sabem te explicar onde ficam as coisas. Depois de muito rodar, encontrei a funcionária responsável pelo Master 2 Recherche, que me "explicou" como as coisas funcionavam. Ela disse que não faríamos a inscrição pedagógica - fase 2 - (a que eu tinha feito havia sido a administrativa - fase 1 - ), pois ela mesma nos inscreveria nas disciplinas, e que eu tinha que somente me informar sobre a aula de língua estrangeira, sem me dizer que esta só seria obrigatória no 2º semestre. Corri atrás feito louca, dando cabeçadas por todo lado, e consegui me inscrever na aula de Francês Língua Estrangeira, depois de fazer um teste online para definir meu nível.

A Paris 7 e o belo jardim onde os alunos adoram ficar - quando tem sol-. Foto: Vanessa Santos

Je suis Charlie E Je suis Ahmed. Paris e os tempos de terrorismo


Na quarta-feira, dia 7 de janeiro de 2015, eu estava na faculdade o dia todo fazendo provas, então demorei a ficar sabendo do ataque ao jornal Cherlie Hebdo, e mais ainda a perceber a gravidade da situação para o país. Quando voltei para casa, por volta das 18h, não notei nada de diferente nem no metrô nem nas ruas, e só sabia que dois homens haviam invadido um jornal e aberto fogo. Cheguei em casa e vi as mensagens dos amigos no Facebook perguntando se eu estava bem, pedindo notícias, pois estavam vendo um plantão, cobertura completa, de um ataque terrorista em Paris. Então eu fiquei sabendo que era um jornal que publicava caricaturas de Maomé e ridicularizava o Islã e por vezes também o Catolicismo (eu mesma, que não tenho religião, tinha ficado chocada dias antes com uma capa do jornal ridicularizando Jesus Cristo, a primeira capa que tinha visto deles). Os dois homens teriam dito que estavam "vingando" o profeta (Maomé).

Foto: Rohma Malik/ Twitter
Tranquilizei todo mundo dizendo que estava bem, que o local onde havia ocorrido o ataque era próximo de onde eu moro mas não conheço nem passo por lá, e que não tinha notado nada de diferente na volta para casa nas ruas. Muita gente me perguntou como estava o clima na cidade, e demonstraram preocupação crescente, uma vez que uma "guerra" havia eclodido no país, com a polícia em alerta máximo, o assassinato da policial na divisa de Paris com Montrouge no dia seguinte, a caça aos suspeitos do ataque ao jornal e a cobertura da mídia 24h por dia (no Brasil, inclusive) mostrando cada detalhe e considerando os acontecimentos como o "11 de setembro da França".